terça-feira, 14 de setembro de 2010

Maio de 68

Maio de 1968 faz 40 anos. Tornou-se uma data mítica que se inscreveu na história para sempre, lembrando, de forma radical a rebeldia e o inconformismo. Naqueles dias febris de 68, as velhas e sólidas instituições foram derrubadas e os jovens, com uma imaginação prodigiosa, sacudiram inteiramente a sociedade, que vacilou de alto a baixo. Parecia, para quem viveu aquele tempo que um novo mundo estava nascendo. Este movimento de maio, porém, não estava ancorado em uma única idéia motriz, como, por exemplo, a Revolução de Outubro na Rússia de 1917 que tinha no marxismo a sua direção principal. Maio tinha várias idéias que, entretanto, tinham em comum a aspiração para uma liberdade sem limites, uma total oposição às formas sociais dominantes.
Isto, porém, não quer dizer que o movimento de maio, que deixou em pânico os conservadores de todos os matizes, não fosse influenciado desta ou daquela forma por alguns pensadores marcantes da segunda metade do Século XX. Jean-Paul Sartre foi um deles. Sua ousada e brilhante renovação do marxismo, que culminou na imponente Crítica da Razão Dialética, influenciou centenas de jovens nas universidades francesas com conceitos novos como a "serialidade", o "prático-inerte", o "grupo em fusão". Sua companheira, Simone de Beauvoir, foi essencial para proporcionar uma base teórica ao feminismo - fundamental no movimento de maio - com sua célebre obra O Segundo Sexo.
Outros filósofos fundamentais daqueles anos foram Michel Foucault, Herbert Marcuse, Cornelius Castoriadis, Guy Debord, sem esquecer as correntes maoístas e trotskistas. Rosa Luxemburg estava de volta e seu retrato ganhava destaque nas imponentes passeatas que ocorriam praticamente todos os dias. Foucault colocava no centro de seu trabalho o que ele denominava a "microfísica do poder". Outro que não pode ser ignorado é Louis Althusser, que fazia uma nova leitura de Marx e O Capital. Marcuse foi o pioneiro a salientar a integração da classe operária ao sistema, percebendo a importância dos deserdados, das mulheres, das minorias e dos jovens. Guy Debord, criador do grupúsculo "Internacional Situacionista", é o autor do hoje clássico livro A Sociedade do Espetáculo, que sintetiza com perfeição as críticas dos jovens rebeldes à sociedade de consumo.
Cornelius Castoriadis é outra influência decisiva. Assinando seus textos radicais como Pierre Chalieu ou Paul Cardan, ele e seu pequeno grupo de companheiros, lançou a revista "Socialismo ou Barbárie". Publicada pela primeira vez no final dos anos 40, a revista antecipava, em cada edição, o maio de 1968. A revolta estudantil foi espontânea, mas também foi contemporânea de uma das mais ricas etapas do pensamento europeu.

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