terça-feira, 14 de setembro de 2010

Gilles Deleuze

Gilles Deleuze (1925-1995), filósofo francês, vinculado aos denominados movimentos pós-estruturalistas, categorizações que o próprio Deleuze questionava pelo que trazem, ainda, da visão e luta pelo idêntico. Suas teorias acerca da diferença e da singularidade nos desafiam a pensar em temas como rizoma, ontologia da experiência, a teoria do que fazemos, a virtualidade e a atualidade.


Deleuze, assim como Foucault, foi um dos estudiosos de Kant, mas tem em Bergson, Nietzsche e Espinosa, poderosas intersecções. Professor da Universidade de Paris VIII, Vincennes, Deleuze atualizou idéias como as de devir, acontecimentos, singularidades, enfim conceitos que nos impelem a transformar a nós mesmos, incitando-nos a produzir espaços de criação e de produção de acontecimentos-outros. Em sua vida, Deleuze fez tanto críticas ao marxismo como ao freudismo, ponderando-os como representantes de um ‘burocratismo fundamental’. Trata-se de uma filosofia do acontecimento, uma filosofia da multiplicidade, cujas bases rompem com a filosofia do sujeito, da consciência. Propõe lidar com a criação de conceitos e com a produção de acontecimentos que os atualizem no perpétuo jogo entre virtuais e atuais. Deleuze torce a concepção de desejo entrelaçado com as idéias de Nietzsche, de vontade de potência, inventando outros jeitos de ser, pensar e viver, intensamente atravessados por acontecimentos, intensidades nesses acontecimentos como experimentações. Trabalha esse acontecimento como uma processualidade da formação. A filosofia a que se propõe, que defende e buscou praticar é então constituída por três instâncias correlacionais: o plano de imanência que ela precisa traçar, os personagens filosóficos que ela precisa inventar e os conceitos que deve criar. Portanto, uma filosofia é examinada, em sua concepção, o que nos invoca dimensões de praticidade, de experimentação, um alento pelo que ela produz e pelos efeitos que causa. Os conceitos filosóficos são válidos na medida em que sejam verdadeiros, mas uma verdade regulada por interesses e importância. Falar de Deleuze é exercer, de antemão, algumas escolhas, saber que se estará operando em dobras, resultantes, efeitos e promotoras de outras dobras.
Ao tratar de Deleuze, lidamos com uma ética do acontecimento, em cuja internalidade se busca não o tempo constituído pela continuidade e eternidade, mas o aberto pelo intempestivo da atualidade, sem categorias fixas, pelo qual o sujeito torna-se diferente do que é, sendo ele mesmo. Desafia-nos, nessa linha, entre outras, à idéia de que a educação é rizomática, segmentada, fragmentária, não está preocupada com a instauração de nenhuma falsa totalidade. Não interessa criar modelos, propor caminhos, impor soluções. Importa fazer rizoma, conexões, trabalhando o "entre dois", entre as coisas, no intermezzo.
Ele nos propõe a produção imanente sem a mediação. Deleuze nos provoca com idéias de pensar e de criar conceitos, como dispositivos, ferramentas, algo que é inventado, criado, produzido, a partir das condições dadas e que opera no âmbito mesmo destas condições. O conceito é um dispositivo que faz pensar. Nossa prática, como intercessores, colocam-nos em condição de não se refugiar na "reflexão sobre", mas de operar, criar, experimentar, sem ser "agitando velhos conceitos estereotipados como esqueletos destinados a intimidar toda criação, (...) [não se contentando] em limpar, raspar os ossos" (Deleuze e Guattari, 1992, p. 109). Deixando emergir as multiplicidades, tais como conceitos e experimentações que se criam na frutífera parceria entre Deleuze e Guattari.
 
Principais obras:
 
BADIOU, Alain. Deleuze. O clamor do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
BADIOU, Alain. Deleuze em quatro tópicos. PELBART, Peter Pàl; ROLNIK, Suely (ogs.). Cadernos de Subjetividade. Gilles Deleuze. São Paulo: Núcleo de Estudos e Pesquisas da Subjetividade. PPGPsicologia Clínica, PUCSP, junho 1996, p. 1-262.
DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. São Paulo: Ed. 34, 1999.
DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica. Rio de Janeiro: 34, 1997.
DELEUZE, Gilles. Kafka, por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 1977.
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
DELEUZE, Gilles. Empirismo e subjetividade. São Paulo: 34, 2001.
DELEUZE, Gilles. Espinosa. Filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002.
DELEUZE, Gilles. Foucault. Lisboa: Veja, [1987].
DELEUZE, Gilles. Imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. O que é filosofia. Rio de Janeiro: 34, 1992.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Ano zero. Rostidade. Volume III. Rio de Janeiro: 34, 1996.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Introdução: Rizoma. Volume I, Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Postulados da Lingüística. Volume II. Rio de Janeiro: 34, 1995
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Devir-Intenso, Devir-Animal, Devir-Imperceptível. Volume IV. Rio de Janeiro: 34, 1995.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Tratado de nomadologia: a máquina de guerra. Volume V. Rio de Janeiro: 34, 1995.
DELEUZE, Gilles & PARNET, Claire. Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998.
GALLO, Silvio. Deleuze e a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
GUALANDI, Deleuze. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
LARROSA, Jorge. Nietzsche e a educação. Belo Horizonte, Autêntica, 2002.

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