quarta-feira, 1 de junho de 2011


PROCESSOS SÓCIO-INSTITUCIONAIS
PROF. JOSÉ DANIEL MENDES BARCELOS
CLÍNICA AMPLIADA: um novo conceito
Trata-se de colocar em discussão justamente a fragmentação do processo de trabalho e, por isso, é necessário criar um contexto favorável para que se possa falar das questões em relação aos temas e às atividades no mundo do trabalho contemporâneo;
Ajudar a usuários e trabalhadores a lidar com a complexidade dos sujeitos e a multicausalidade dos problemas de saúde na atualidade significa ajudá-los a trabalhar em equipe;
A proposta de clínica ampliada é ser um instrumento para que os trabalhadores e gestores possam enxergar e atuar na clínica para além dos pedaços fragmentados;
A Clínica Ampliada é um trabalho clínico que visa ao sujeito e à doença, à família e ao contexto, tendo como objetivo produzir saúde e aumentar a autonomia do sujeito, da família e da comunidade. (PNH, Ministério da Saúde, Textos Básicos, 2006).
Na clínica ampliada o trabalho em interdisciplinaridade é o eixo principal para a construção de novas práticas profissionais;
A PROPOSTA DA CLÍNICA AMPLIADA ENGLOBA OS SEGUINTES EIXOS FUNDAMENTAIS:
1. Compreensão ampliada do processo saúde-doença (indivíduo, família, instituição/organização, sociedade). Ela coloca em primeiro plano a situação real do trabalho, vivida a cada instante por sujeitos reais. Este eixo traduz-se ao mesmo tempo em um modo diferente de fazer a clínica, numa ampliação do objeto de trabalho e na busca de resultados eficientes, com necessária inclusão de novos instrumentos.
2. Construção compartilhada. O reconhecimento da complexidade deve significar o reconhecimento da necessidade de compartilhar diagnósticos de problemas e propostas de solução. Este compartilhamento vai tanto na direção da equipe, dos serviços da ação intersetorial, como no sentido dos usuários/trabalhadores.
3. Ampliação do “objeto de trabalho”. As doenças, as epidemias, os problemas sociais acontecem em pessoas e, portanto, o objeto de trabalho de qualquer profissional deve ser a pessoa ou grupos de pessoas, por mais que o núcleo profissional (ou especialidade) seja bem delimitado. As organizações não ficaram imunes à fragmentação do processo de trabalho decorrente da Revolução Industrial. A fragmentação produziu uma progressiva redução do objeto de trabalho através da excessiva especialização profissional. A máxima organizacional “cada um faz a sua parte” sanciona definitivamente a fragmentação, individualização e desresponsabilização do trabalho, da atenção e do cuidado.
4. A transformação dos “meios” ou instrumentos de trabalho. Os instrumentos de trabalho também se modificam intensamente na Clínica Ampliada. São necessários arranjos e dispositivos de gestão que privilegiem uma comunicação transversal na equipe e entre equipes (nas organizações e rede assistencial). Mas, principalmente, são necessárias técnicas relacionais que permitam uma clínica compartilhada. A capacidade de escuta do outro e de si mesmo, a capacidade de lidar com condutas automatizadas de forma crítica, de lidar com a expressão de problemas sociais e subjetivos, com família e com comunidade etc.
5. Suporte para os profissionais. A clínica com objeto de trabalho reduzido acaba tendo uma função protetora - ainda que falsamente protetora – porque “permite” ao profissional não ouvir uma pessoa ou um coletivo em sofrimento e, assim, tentar não lidar com a própria dor ou medo que o trabalho pode trazer. É necessário criar instrumentos de suporte aos profissionais para que eles possam lidar com as próprias dificuldades, com identificações positivas e negativas, com os diversos tipos de situação. As dificuldades pessoais no trabalho refletem, na maior parte das vezes, problemas do processo de trabalho, baixa grupalidade solidária na equipe, alta conflitividade e competitividade, dificuldade de vislumbrar os resultados do trabalho em decorrência da fragmentação, etc.
CUIDANDO DO TRABALHADOR - prevenção de agravos e a promoção da saúde e bem-estar do trabalhador, utilizando-se dos conhecimentos e práticas desenvolvidas pelas áreas da psicologia clínica, psicologia da saúde e organizacional/trabalho. Seus principais focos de atuação são:
(a) acidentes e segurança no trabalho;
(b) bem-estar físico e psicológico;
(c) excessivas exigências;
(d) estresse e burnout;
(e) violência no trabalho;
(f) doenças relacionadas com o trabalho;
(g) gerenciamento do tempo de lazer versus trabalho e;
(h) excesso de tarefas no trabalho.
 
REFERÊNCIAS:
COSTA, L. F. & BRANDÃO, S. L. (2005). Abordagem clínica no contexto comunitário: uma perspectiva integradora. Psicologia & Sociedade, 17, 33-41.
CUNHA, G. T. A Construção da Clínica Ampliada na Atenção Básica. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 2005.
FERREIRA NETO, J. L. Práticas transversalizadas da clínica em saúde mental. Psicol. Reflex. Crit. [online]. 2008, vol.21, n.1, pp. 110-118. ISSN 0102-7972.  doi:
10.1590/S0102-79722008000100014.
LO BIANCO, A. C., BASTOS, A. V. B., NUNES, M. L. T., & SILVA, R. C. (1994). Concepções e atividades emergentes na psicologia clínica: implicações para a formação. Em Conselho Federal de Psicologia (Org.). Psicólogo Brasileiro: Práticas Emergentes e Desafios para a Formação (pp. 17-100). São Paulo: Casa do Psicólogo. PASSOS, E.; BARROS , R. B. de. Clínica e Biopolítica no Contemporâneo. Revista de Psicologia Clínica, Rio de Janeiro, v. 16, p. 71-79, 2001.
PORTELA, M. A. (2008). A crise da psicologia clínica no mundo contemporâneo. Estudos de Psicologia (Campinas), 25, 131-140.

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