quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fungos e a qualidade sanitária das areias de praia

Isabela Cristina S.S.Madeira

Bióloga.


Fungos são organismos onipresentes encontrados em vegetais, animais, homem, detritos, água, ar e, em abundância no solo, são participantes ativos do ciclo dos elementos na natureza. Sua dispersão é feita através de animais, homem, insetos, água e, principalmente, pelo ar atmosférico, e através vento (SILVA 2006).
Muitos fungos apresentam característica patogênica, ou seja, capacidade de infectar o homem, animais ou vegetais, causando-lhe micoses do tipo superficiais, cutâneas, subcutâneas, sistêmicas e/ou oportunistas (LACAZ et al., 2002; TORTORA et al., 2000; TRABULSI et al., 1999).
Pessoas em suas atividades de lazer nas praias mantêm um contato direto com a areia e água, sendo o contato humano uma das principais fontes de contaminação do substrato praiano, juntamente com a água e os animais que dividem o mesmo espaço, pois o homem e os animais transmitem à areia microorganismos de que são portadores e por outro lado produzem resíduos que são o substrato ideal para o desenvolvimento destes microorganismos. (SOUZA et al. 1968; BOLTON et al. 1999; PHILIPP et al. 1994; EFSTRATIOU et al. 2001; REGNIER, 1972).
Além disso, segundo a publicação do Sudanese Journal of Public Health de 2008 a presença de fungos filamentosos em ambiente hipersalino sugere que o mar pode ser considerado uma rota de transmissão possível para fungos filamentosos potencialmente perigosos para a saúde.
As areias e água de praias contaminadas transmitem a seus freqüentadores inúmeros microorganismos como bactérias, fungos e outros parasitos. A contaminação pode ocorrer pela ingestão acidental, levando a mão suja de areia à boca e/ou contato com a pele (MILLER, 1975; KADE, 1975; MAIER et al. 2003).
Segundo Boukai (2007), a qualidade sanitária da areia das praias dos municípios brasileiros não é monitorada e os padrões sanitários provisórios estabelecidos pela Resolução SMAC 81 de 28 de dezembro de 2000, com revisão prevista num prazo de dois anos, ainda não foi efetivada. A qualidade da água é estabelecida através de análise de índices de coliformes fecais (BOUKAI 2007; MAIER et al.2003), porém a análise de outros microorganismos também se faz necessária, já que muitos deles como protozoários, e fungos podem causar doenças em humanos, principalmente crianças e idosos.

Doenças causadas por fungos relacionadas ao verão

O aparecimento das chamadas micoses, se tornam mais comuns no verão e isso se deve as condições de maior umidade e temperatura elevada da estação e por conseqüência o aumento da sudorese, uso de óleos bronzeadores, roupas molhadas e outros fatores que facilitam a proliferação de fungos e a disseminação de doenças.

As micoses são classificadas como:
• superficiais: quando se localizam na camada externa da pele, não costumam trazer maiores problemas para a saúde, sendo de fácil tratamento.
• profundas: Apresentam maior dificuldade no tratamento, porque os fungos se disseminam pela corrente sanguínea e linfática, podendo chegar a atingir órgãos internos, como pulmões e intestinos, ou ossos e sistema nervoso.

Micoses superficiais

Pitiríase versicolor : É a mais comum também chamada de micose de praia ou pano - branco ao contrário do que se pensa,ela não é adquirida propriamente na praia ou na piscina, já que o fungo causador da micose (Malassezia furfur) habita a pele de todas as pessoas, mas somente aquelas que já tem uma predisposição genética, quando submetidas a determinadas condições, desenvolvem a doença.
O motivo pelo qual ela é conhecida como micose de praia é porque a oleosidade natural da pele, normalmente aumenta , por causa do calor, e o uso de produtos oleosos, que favorecem o desenvolvimento da pitiríase versicolor.
Outras micoses mais facilmente adquiridas nos banhos de praia e de piscina, são as tineas ou dermatofitoses, que podem aparecer em várias partes do corpo: virilha, mãos, unhas e pés.

Tinea cruris : Micose que se desenvolve, entre as coxas, na forma de manchas avermelhadas, provocando coceira. Mais comum nos homens, esta micose, se não tratada, pode se alastrar pela região genital. Uma das causas do aparecimento desta micose é ficar muito tempo com roupas de banho molhadas, (sungas).

Frieira ou pé-de-atleta: É uma dermatofitose bastante conhecida e a, que normalmente aparece entre os dedos em forma de rachaduras, ou ainda, na planta dos pés, como pequenas bolhas que descamam, pele esbranquiçada e mole, e coceira. Por isso ao freqüentar clubes, o ideal é evitar o contato com a água parada que fica na entrada de piscinas e chuveiros, porque também favorecem o risco de contaminação, das unhas e dos pés.

Onicomicoses: são as denominadas, micoses de unha, podem se manifestar de diversas formas, como unhas quebradiças, ou mais espessas, duras e grossas. Estas são de difícil tratamento pelo tempo demorado. Uma forma de contágio comum da micose de unha é o uso de alicates e outros materiais de manicure contaminados.

A tinea de couro cabeludo :Micose, muito frequente em crianças em idade escolar. Apresenta-se como uma placa de cabelos picotados, com descamação no centro ou com reação inflamatória. Quando apresenta muito inchaço ou pus, forma o quadro denominado de Kerion celsii, podendo até deixar cicatriz. Por isso o melhor é não compartilhar bonés escovas ou pentes de cabelo.

Como prevenir o aparecimento de micoses?

• Evite usar produtos que aumentem muito a oleosidade da pele;
• Evite andar descalço, principalmente em pisos úmidos ou públicos, como lava-pés, vestiários e saunas;
• Não use objetos pessoais (roupas, calçados, pentes, toalhas, bonés) de outras pessoas;
• Seque-se sempre muito bem após o banho, principalmente as dobras de pele, como axilas, virilha e dedos dos pés;
• Evite ficar com roupas de banho molhadas por muito tempo;
• Nunca se sentar diretamente na areia da praia, para isso sempre utilize uma canga.
• Prefira meias e roupas íntimas de algodão, pois as fibras sintéticas retêm o suor;
• Quando for a manicure ou pedicure, leve seu próprio alicate, lixa e tesoura ou, verifique se os do profissional estão todos esterilizados;
• Evite usar o mesmo sapato dois dias seguidos e, nunca, use a mesma meia antes de lavá-la.

Referências

BOLTON, F.J.; SURMAN, S.B.; MARTIN, K.; WAREING, D.R.; HUMPHREY, T.J. (1999). Presence of Campylobacter and Salmonella in sand from bathing beaches. Epidemiol. Infect. 122(1):7-13.

BOUKAI, N (2007). Qualidade sanitária da areia das praias do município do Riode Janeiro: diagnóstico e estratégia para monitoramento e controle. Programa de Pós-graduação em EngenhariaAmbiental/UERJ. Nº 20070101

EFSTRATIOU, M.A. (2001). Managing coastal bathing water quality: the contribution of microbiology and epidemiology. Mar. Pollut. Bull. 42(6):425:432.

GHINSBERG, R.C.; BAR DOV, L.; ROGOL, M.; SHEINBERG, Y.; NITZAN, Y. (1994). Monitoring of selected bacteria and fungi in sand and sea water along the Tel Aviv coast. Microbios, 77(310):29-40.

LACAZ, C.S.; PORTO, E.; MARTINS, J.E.C.; HEINS-VACCAU, E.M.; MELO, N.T. Tratado de micologia médica. 9.ed. São Paulo:Sarvier., 2002. 1104p

MAIER, L.M; OLIVEIRA, V.R; REZENDE, K.C.R; VIEIRA, V.D.R; CARVALHO, C.R. Avaliação da presença de fungos e bactérias patogênicas nas areias de duas praias de baixo hidrodinamismo e alta ocupação humana no litoral do município do Rio de Janeiro, 2003.

PHILIPP, R.; POND, K.; REES, G. (1994). Medical wastes found on coastline are increasing. BMJ , 309(6952):471.

REGNIER, A.P. & PARK, R.W. (1972). Faecal pollution of our beaches: how serious is the situation ? Nature, 239(5372):408-410.

SOUSA, S.; BORREGAMA, J.; CABRITA, J. (1968), Isolamento de Dermatófitos na Areia da Praia. Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Veterinária. 26:67-74.

TRABULSI, L.R.; ALTERTHUM, F.; GOMPERTZ, O.F.; CANDEIAS,J.A.N. Microbiologia. 3.ed. São Paulo: Atheneu, 1999.586p.

TORTORA, J.T.; FUNKE, B.R.; CASE, C.L. Microbiologia. 6.ed.Porto Alegre: Artmed. 2000. 827p.

Sites utilizados
http://www.invivo.fiocruz.br

http://www.doctor fungus.org


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